Mensagem da Direção Artística

Alexandre Delgado e Rui Morais

Os 25 anos da classificação do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça como Património da Humanidade são o mote da 23.ª edição do Cistermúsica, celebrando a vocação histórica e universal de um dos mais importantes mosteiros da ordem de Cister. Reforçou-se a aposta na música antiga e na criação contemporânea, numa programação que se pretende ser eclética e abrangente na sua combinação de grandes clássicos, descobertas valiosas e obras do património musical português. Numa edição com uma forte componente internacional, que inclui a primeira vinda a Portugal de vários grupos e solistas, manteve-se a aposta em jovens valores e na participação de músicos destacados do concelho e do país.

Dirigido pela consagrada Brigitte Lesne, o grupo francês de música medieval Discantus propõe polifonias do mosteiro cisterciense de Huelgas e música da corte de Afonso o Sábio. Na sua primeira vinda a Portugal, o coro de câmara Les Éléments propõe uma viagem fascinante pelo sacro mediterrâneo, combinando os intemporais Victoria, Gesualdo ou Lotti com música dos nossos dias. Prosseguindo um excelente trabalho, a Capella Duriensis regressa com reportório gregoriano do scriptorium de Alcobaça e polifonia portuguesa.

No âmbito da música barroca, saúde-se o jovem grupo Los Temperamentos, que reúne músicos da Hungria, da Alemanha, do México e da Colômbia, trazendo-nos uma lufada de ar fresco com um programa com música do Velho e do Novo Mundo: El Galeón 1600.

Destaque para a vinda do Duo Amal, que reúne um pianista israelita e pianista palestiniano e tem causado sensação na cena internacional pelo virtuosismo exuberante com que explora o reportório para dois pianos, neste caso de Schubert, Rakhmaninov, Chostakovitch e Prokofiev, além de duas obras recentes.

Outro grupo que se estreia em Portugal é o consagrado Gould Trio, trazendo três joias do repertório de trio com piano (Beethoven, Brahms e Ravel) e uma primeira audição em Portugal do escocês James McMillan.

Participando numa noite non-stop no Mosteiro com a Academia de Dança de Alcobaça, o Moscow Piano Quartet (que celebra 25 anos em 2015) fará a estreia de uma obra encomendada talentoso compositor alcobacense Daniel Bernardes, num programa que inclui Beethoven e Dvořák.

Outro destacado músico alcobacense é o contratenor Luís Peças, cuja voz (que há muito seduz os visitantes do Mosteiro de Alcobaça) será ouvida em duas freguesias do concelho (e não só), em parceria com a cravista Jenny Silvestre.

Da programação de Dança, destaque-se a primeira vinda ao Cistermúsica da Companhia Nacional de Bailado, com uma coreografia de Olga Roriz, Orfeu e Eurídice, com música de Gluck. Destaque-se também o espetáculo com uma nova coreografia da jovem Margarida Belo Costa.

Como vem sendo hábito, a programação paralela do Cistermúsica Júnior procura atrair os mais novos e suas famílias, contando com a energia da Academia de Música de Alcobaça.

É no domínio orquestral e coral-sinfónico o Cistermúsica 2015 se propõe chegar ao mais vasto público. Na sequência dos seus êxitos além-fronteiras, a Banda de Alcobaça e o Coro Lisboa Cantat abre o festival com o mais popular “clássico” do século XX: a cantata Carmina Burana de Carl Orff. Numa alusão à mais famosa especialidade gastronómica de Alcobaça – o frango na púcara – a Orquestra Gulbenkian interpreta a Sinfonia “A Galinha” de Haydn, num programa que inclui o amado Concerto para Violino de Mendelssohn (tocado pelo jovem vencedor do Prémio do Estoril 2014, Vladimir Tolpygo) e obras de Bomtempo e Luís de Freitas Branco (de quem se assinalam os 125 anos do nascimento). Especialmente inesquecível, como concerto de encerramento, será ouvir o Requiem de Mozart na Nave Central do Mosteiro, pela orquestra Sinfonietta de Lisboa, o Coro Ricercare e um excelente grupo de solistas, com uma multidão digna da obra-prima de Mozart e da maior igreja do nosso país.

Alexandre Delgado e Rui Morais
Direção Artística do Cistermúsica